Estava eu almoçando com duas grandes amigas em um shopping da cidade, quando, não sei como, entramos no tema “DEUS”. Fiquei surpreso que as duas( uma católica a outra evangélica) acreditam que Jesus é DEUS! Tentei argumentar falando que no evangelho há varias passagens que mostram o contrário, mas presas pelo dogma e pela falta de um pouco de raciocínio não aceitaram bem os meus argumentos. Então pensando na Doutrina Espírita como a terceira revelação resolvi trazer esse texto de J.Herculano Pires de seu livro “Os três caminhos de Hecate” com o titulo de "Desenvolvimento Espiritual" que nos dá um reflexão sobre este encontro que tive com minhas amigas.
”Não podemos entender o problema religioso, fora da perspectiva histórica. Falar em verdades eternas, instituições divinas, revelações supremas, às quais teríamos de submeter-nos, como um rebanho ao pastor, é simplesmente fugir ao esclarecimento do assunto. A mística das revelações constitui um período histórico necessário, nas fases primárias do desenvolvimento humano. Como decorrer do tempo, esse período foi superado. O homem tornou-se capaz de pensar de maneira aguda e produtiva, de criticar suas concepções anteriores e de criar meios de investigação dos mistérios da vida e do mundo, com sua própria inteligência. Nesse momento, compreendeu a relatividade das antigas verdades absolutas”.
“O Espiritismo se caracteriza, em face das religiões atuais, por essa posição racional, quanto ao problema religioso. As pessoas que não conhecem o Espiritismo, em geral o confundem com simples formas de sincretismo religioso ou de superstições primitivas. Pensam que Espiritismo é evocação de espíritos, magia, feitiçaria e coisas semelhantes. Assim, ao lerem o que acabamos de escrever, pensam que estamos sofismando. Aconselhamos essas pessoas a consultarem as obras básicas da doutrina, em especial “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, para verem que estamos com a razão”.
“As religiões antigas, anteriores ao Cristianismo, apresentavam-se como revelações divinas, feitas pelos deuses mitológicos. A religião judaica, da qual nasceu a cristã, era a revelação de Jeová ao povo eleito. O Cristianismo apareceu de maneira diferente, como uma religião didática, ensinada por um homem. A revelação divina se tornava humana. Mas a imaginação do tempo, apegada ao maravilhoso, em breve rejeitou essa modificação. Jesus foi devolvido do plano histórico ao mitológico e transformado em Deus. O Cristianismo absorveu, então, a mística e a magia das revelações divinas do passado, confundindo-se com elas. Tornou-se uma “religião revelada”, como as outras, e adquiriu o mesmo poder de coação, impondo-se aos homens pelo prestígio do mistério. Mas o próprio Cristo já havia previsto esse fato e anunciou a ressurreição de seus princípios, para quando a mente humana atingisse a maturidade. É o que vemos no Evangelho de João, com o anúncio do Consolador”.
“Quase dois mil anos correram sobre as palavras de Jesus, mas o momento de maturidade chegou. Nos séculos XVII e XVIII vemos acentuar-se o processo de maturação mental da humanidade, e no século XIX encontramos o homem numa fase de plena libertação espiritual. É então que aparece o Espiritismo. Não como revelação divina, no sentido das religiões antigas, mas como um vasto processo de descoberta do espírito. Kardec o apresenta, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, como III Revelação, mas esclarece o sentido novo dessa revelação”.
“Nada mais claro do que a explicação de Kardec, em “A Gênese”, sobre a natureza do Espiritismo. Revelar, diz ele, é mostrar alguma coisa que estava oculta. Nesse sentido, o Espiritismo é, ao mesmo tempo, revelação divina e revelação humana. Divina, quando os Espíritos, por suas manifestações, revelam aos homens a natureza do mundo espiritual. Humana, quando os homens, por suas investigações, penetram os segredos desse mundo. A revelação espírita não é, portanto, absoluta, imposta aos homens pelos deuses ou por Deus. É o resultado de uma conjugação de esforços. Os Espíritos, homens desencarnados, e os Homens, espíritos encarnados, dão-se as mãos para descobrirem a verdade espiritual, no plano natural e não do mistério”.
” Há duas formas de revelação, diz Kardec: a divina e a científica. As religiões antigas aceitavam a primeira e nela se baseavam.
Daí seu caráter absolutista, sua arrogância na imposição de princípios indiscutíveis. O Espiritismo aceita a segunda e nela se baseia. Daí seu caráter científico. Os Espíritos ajudam os homens a penetrarem os segredos do mundo espiritual. Não são mestres superiores e infalíveis, mas colaboradores. Não possuem a sabedoria suprema dos deuses, mas a relativa, das criaturas. A revelação divina se humaniza de novo no Espiritismo, despojando-se dos elementos místicos e mágicos do passado. Os princípios racionais, ensinados por Jesus, ressurgem no momento exato da maturidade mental da humanidade. A profecia do Mestre se cumpre, não de maneira milagrosa, mas dentro do processo histórico, como uma antevisão do desenvolvimento evolutivo da espécie”.
“As verdades eternas, as instituições divinas e as revelações supremas, que antes exerciam seu domínio mágico sobre os homens, perdem o velho prestígio. O homem, liberto do temor do mistério e do temor dos deuses, aprende a conquistar por si mesmo o conhecimento das coisas espirituais, como conquistou o das coisas materiais. Dentro da relatividade de sua natureza, aprende que as verdades eternas lhe são ainda inacessíveis. Aprende, sobretudo, que antes de conhecer o absoluto, terá de evoluir no relativo. A religião volta a adquirir, assim, o caráter didático do ensino de Jesus. Não é mais um plano de salvação imediata, mas uma escola de salvação progressiva”.
“É por isso que o Espiritismo não se proclama como religião única, fora da qual não haverá salvação. Essencialmente evolucionista, ele nos mostra a religião como um processo de desenvolvimento espiritual do homem. Nas fases primitivas, a religião se traduzia em mistério e magia. Nas fases posteriores da evolução humana, ela se traduz em compreensão espiritual. Os mistérios, as fórmulas sacramentais, a consagração de objetos, os ritos, são apenas instrumentos primários do desenvolvimento espiritual. Mas chega o momento em que o homem se liberta de tudo isso, para atingir aquilo que Jesus chamava: “adorar a Deus em espírito e verdade”.