Um dia desses recebi um e-mail onde falava que em certo centro Espírita do Rio de Janeiro, foi recebida uma mensagem do espírito Bezerra de Meneses conclamando as pessoas a orarem pelas vítimas dos desabamentos ocorridos naquela cidade, fazendo uma corrente de ajuda. Até aí tudo bem, pois qualquer ajuda que possamos fazer pelos nossos irmãos em sofrimento é muito importante. O que me chamou a atenção foram os comentários da pessoa que enviou o e-mail. Em dado momento ele diz que essa corrente ajudaria porque “o pensamento é matéria”. Fiquei alguns minutos pensando da onde esta pessoa tirou tal afirmação. Mas não fiquei assustado com isto, porque há alguns anos atrás eu também pensava que o pensamento era matéria. Felizmente alertado por amigos estudiosos da doutrina e indo buscar conhecimento na fonte cristalina da codificação e percebendo a lógica das idéias, cheguei a várias conclusões, não só com respeito ao pensamento, mas a outros temas.
Mas onde nasce estas idéias que, como eu tinha, vários espíritas tem hoje, que infelizmente não condiz com o pensamento espírita de fato? Fazendo algumas investigações aqui outra ali, refletindo e conversando com amigos ancorados nos estudos, apresento algumas conclusões, que não são só minhas mas de milhares de espíritas no Brasil.
Primeiro vamos aos textos:
No livro Mecanismos da mediunidade, pelo Espírito Andre Luiz através do médium Chico Xavier , editado pela FEB(quarta edição), temos o capítulo IV, intitulado ‘’Matéria Mental” onde se lê:
“Identificando o fluido elementar ou hálito divino por base mantenedora de todas as associações da forma nos domínios inumeráveis do cosmo, do qual conhecemos o elétron como sendo um dos corpúsculos-base nas organizações e oscilações da matéria, interpretaremos o universo como um todo de forças dinâmicas, expressando o pensamento do criador. E superpondo-se-lhe à grandeza indevassável, encontraremos a matéria mental que nos é própria, em agitação constante, plasmando as criações temporárias, adstritas à nossa necessidade de progresso”.
Na pagina 44 que tem como subtítulo “Pensamento das criaturas” ainda se lê:
“Do principio elementar, fluindo incessantemente no campo cósmico, auscultamos, de modo imperfeito, as energias profundas que produzem eletricidade e magnetismo, sem conseguir enquadrá-las em exatas definições terrestres, e, da matéria mental dos seres criados, estudamos o pensamento ou fluxo energético do campo espiritual de cada um deles, a se graduarem nos mais diversos tipos de onda(...)”
Na pagina seguinte em “Corpúsculos mentais” lemos ainda:
“Como alicerce vivo de todas as realizações nos planos físico e extrafísico, encontramos o pensamento por agente essencial. Entretanto, ele ainda é matéria.(...)” e por aí vai por todo o capitulo.
No Livro Universo e Vida de Hernani T. Santana pelo Espírito Áureo 3ªedição editado pela FEB, Temos no cap.5 o Título “Energia e evolução”, no número 19 com subtítulo de “Ação mento magnética” temos:
”O Pensamento é uma radiação da mente espiritual, dotada de ponderabilidade e de propriedades quimioeletromagnéticas, constituída de partículas subdivisíveis, ou corpúsculos de natureza fluídica, configurando como matéria mental viva e plástica. (...)”
Estes textos são apenas alguns exemplos da idéia do pensamento ser Matéria. Coloquei-os por perceber que estas obras influenciam nosso movimento espírita há vários anos. Farei alguns comentários destes textos, mas antes vamos à lógica da codificação.
Primeiramente vamos ver a definição de matéria na codificação. Pergunta 22-a de O Livro dos Espíritos:
22-a. Que definição podeis dar da matéria?
“A matéria é o laço que prende o espírito: é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.” Deste ponto de vista, pode dizer-se que a matéria é o agente, o intermediário com o auxilio do qual e sobre o qual atua o espírito. (comentário de Kardec)
Podemos observar só por está questão que espírito e matéria são coisas distintas. Nas perguntas seguintes é reafirmada tal distinção e concluído que existem três elementos no universo, Deus, espírito e matéria. Na pergunta 89-a temos:
89-a. O pensamento não é a própria alma que se transporta?
“Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois é a alma quem pensa. O pensamento é um atributo.”
Se o pensamento é um atributo, então ele não é material.
Poderia redigir várias perguntas aqui, da codificação, atestando pela lógica, mas ficaria muito longo e enfadonho, porque o objetivo aqui é ser objetivo.
Falam alguns livros e médiuns que o pensamento tem cor, cheiro e forma. Então o pensamento não seria material? Podem perguntar alguns. Não, não é! Respondo de forma direta, pois tenho segurança nos escritos de O Livro dos Espíritos, como podemos ver acima e em outras questões. O que ocorre com fenômeno de cor, cheiro e forma é que o espírito usa a matéria como instrumento de sua ação, ou seja, utiliza-se da matéria cósmica universal para fazer estes efeitos, consciente ou inconscientemente, como se revestissem o pensamento.
Os espíritos André Luiz e Áureo estão errados? Não cabe a eu dizer. Só penso que obras que se dizem espíritas estão dizendo coisas diferentes da codificação, por serem consideradas obras complementares, não completam, criam outros sistemas e confusão, sendo assim não são condizentes com o pensamento espírita.
Vimos acima em Áureo, este trecho, “O Pensamento é uma radiação da mente espiritual, dotada de ponderabilidade (...)”. Ponderabilidade é o que tem forma, peso específico. Vejamos a questão 29:
29- A ponderabilidade é um atributo essencial da matéria?
“Da maneira como a entendeis, sim: mas não da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que forma esse fluido é imponderável para vós, mas nem por isso deixa de ser o principio da vossa matéria pesada”. Podem observar a incongruência?
O problema é que acham que a codificação é do século 19, e que precisamos de obras atualizadas ou novidade vinda pela via mediúnica para “completar” as cinco obras. A falta de estudo aprofundada e contínua da obra Kardequiana, que não tem na maioria dos centros, e por falta de tempo não temos para fazê-lo em casa, é outro escolho. A fé raciocinada que prega nossa doutrina nós não a praticamos, dando lugar a credulidade cega na palavra de espíritos e médiuns. Kardec nos ensina que em todos os momentos devemos usar nossa razão e a observação.
Não! A terceira revelação não é do século 19, ela nasceu lá, mas não é daquele século, ela é atemporal. A doutrina espírita (digo as cinco obras) é a grande novidade para a humanidade, que foi bem construída com bases sólidas e metodologia segura, baseada na razão e no controle universal do ensino dos espíritos, (que está na introdução de O evangelho Segundo O Espiritismo). Vamos a um trecho da referida introdução:
“O Espiritismo ainda encontra nela (na universalidade do ensino dos espíritos) uma poderosa garantia contra os cismas que poderiam ser suscitados, quer pela ambição de alguns, quer pelas contradições de certos espíritos. Essas contradições são certamente um escolho, mas carregam em si mesmas o remédio ao lado do mal.(...)”
“(...) as revelações que alguém possa obter são de caráter individual, sem autenticidade, e devem ser consideradas como opiniões pessoais deste ou daquele espírito, sendo imprudência aceita-las e propagá-las levianamente como verdades absolutas.” Viram que são palavras de Kardec e não minhas.
Minha intenção não é criar confusão, mas colocar as coisas para podermos juntos pensar e discutir, exercitando nossa fé raciocinada e chegando mais perto de compreender as verdades trazidas pela falange do Espírito de Verdade. Muitos podem dizer, “essas discussões não interessam, o que interessa é a reforma moral”. Concordo plenamente que nossa reforma moral é importantíssima para destruir nosso orgulho, vaidade, egoísmo e nossa falta de amor, mas não podemos por isso não exercitar nossa razão e capacidade de reflexão, porque a doutrina está apoiada em um tripé harmônico (Filosofia, Ciência e Moral ou Religião), se dermos atenção em um só aspecto haverá o desequilíbrio, e havendo tal desequilíbrio, há confusão dos aspectos doutrinário, havendo confusão os espíritos que querem a desmoralização da doutrina se infiltram para criar sistemas próprios não condizentes com o pensamento espírita, daí faremos do espiritismo uma colcha de retalhos levando-a ao descrédito.
Estou aberto a respostas e críticas. Grande abraço a todos