domingo, 13 de fevereiro de 2011

Desenvolvimento Espiritual

Estava eu almoçando com duas grandes amigas em um shopping da cidade, quando, não sei como, entramos no tema “DEUS”. Fiquei surpreso que as duas( uma católica a outra evangélica) acreditam que Jesus é DEUS! Tentei argumentar falando que no evangelho há varias passagens que mostram o contrário, mas presas pelo dogma e pela falta de um pouco de raciocínio não aceitaram bem os meus argumentos. Então pensando na Doutrina Espírita como a terceira revelação resolvi trazer esse texto de J.Herculano Pires de seu livro “Os três caminhos de Hecate” com o titulo de "Desenvolvimento Espiritual" que  nos dá um reflexão sobre este encontro que tive com minhas amigas.

”Não podemos entender o problema religioso, fora da perspectiva histórica. Falar em verdades eternas, instituições divinas, revelações supremas, às quais teríamos de submeter-nos, como um rebanho ao pastor, é simplesmente fugir ao esclarecimento do assunto. A mística das revelações constitui um período histórico necessário, nas fases primárias do desenvolvimento humano. Como decorrer do tempo, esse período foi superado. O homem tornou-se capaz de pensar de maneira aguda e produtiva, de criticar suas concepções anteriores e de criar meios de investigação dos mistérios da vida e do mundo, com sua própria inteligência. Nesse momento, compreendeu a relatividade das antigas verdades absolutas”.

 “O Espiritismo se caracteriza, em face das religiões atuais, por essa posição racional, quanto ao problema religioso. As pessoas que não conhecem o Espiritismo, em geral o confundem com simples formas de sincretismo religioso ou de superstições primitivas. Pensam que Espiritismo é evocação de espíritos, magia, feitiçaria e coisas semelhantes. Assim, ao lerem o que acabamos de escrever, pensam que estamos sofismando. Aconselhamos essas pessoas a consultarem as obras básicas da doutrina, em especial “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, para verem que estamos com a razão”.

“As religiões antigas, anteriores ao Cristianismo, apresentavam-se como revelações divinas, feitas pelos deuses mitológicos. A religião judaica, da qual nasceu a cristã, era a revelação de Jeová ao povo eleito. O Cristianismo apareceu de maneira diferente, como uma religião didática, ensinada por um homem. A revelação divina se tornava humana. Mas a imaginação do tempo, apegada ao maravilhoso, em breve rejeitou essa modificação. Jesus foi devolvido do plano histórico ao mitológico e transformado em Deus. O Cristianismo absorveu, então, a mística e a magia das revelações divinas do passado, confundindo-se com elas. Tornou-se uma “religião revelada”, como as outras, e adquiriu o mesmo poder de coação, impondo-se aos homens pelo prestígio do mistério. Mas o próprio Cristo já havia previsto esse fato e anunciou a ressurreição de seus princípios, para quando a mente humana atingisse a maturidade. É o que vemos no Evangelho de João, com o anúncio do Consolador”.

“Quase dois mil anos correram sobre as palavras de Jesus, mas o momento de maturidade chegou. Nos séculos XVII e XVIII vemos acentuar-se o processo de maturação mental da humanidade, e no século XIX encontramos o homem numa fase de plena libertação espiritual. É então que aparece o Espiritismo. Não como revelação divina, no sentido das religiões antigas, mas como um vasto processo de descoberta do espírito. Kardec o apresenta, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, como III Revelação, mas esclarece o sentido novo dessa revelação”.

 “Nada mais claro do que a explicação de Kardec, em “A Gênese”, sobre a natureza do Espiritismo. Revelar, diz ele, é mostrar alguma coisa que estava oculta. Nesse sentido, o Espiritismo é, ao mesmo tempo, revelação divina e revelação humana. Divina, quando os Espíritos, por suas manifestações, revelam aos homens a natureza do mundo espiritual. Humana, quando os homens, por suas investigações, penetram os segredos desse mundo. A revelação espírita não é, portanto, absoluta, imposta aos homens pelos deuses ou por Deus. É o resultado de uma conjugação de esforços. Os Espíritos, homens desencarnados, e os Homens, espíritos encarnados, dão-se as mãos para descobrirem a verdade espiritual, no plano natural e não do mistério”.

Há duas formas de revelação, diz Kardec: a divina e a científica. As religiões antigas aceitavam a primeira e nela se baseavam.
Daí seu caráter absolutista, sua arrogância na imposição de princípios indiscutíveis. O Espiritismo aceita a segunda e nela se baseia. Daí seu caráter científico. Os Espíritos ajudam os homens a penetrarem os segredos do mundo espiritual. Não são mestres superiores e infalíveis, mas colaboradores. Não possuem a sabedoria suprema dos deuses, mas a relativa, das criaturas. A revelação divina se humaniza de novo no Espiritismo, despojando-se dos elementos místicos e mágicos do passado. Os princípios racionais, ensinados por Jesus, ressurgem no momento exato da maturidade mental da humanidade. A profecia do Mestre se cumpre, não de maneira milagrosa, mas dentro do processo histórico, como uma antevisão do desenvolvimento evolutivo da espécie”.

“As verdades eternas, as instituições divinas e as revelações supremas, que antes exerciam seu domínio mágico sobre os homens, perdem o velho prestígio. O homem, liberto do temor do mistério e do temor dos deuses, aprende a conquistar por si mesmo o conhecimento das coisas espirituais, como conquistou o das coisas materiais. Dentro da relatividade de sua natureza, aprende que as verdades eternas lhe são ainda inacessíveis. Aprende, sobretudo, que antes de conhecer o absoluto, terá de evoluir no relativo. A religião volta a adquirir, assim, o caráter didático do ensino de Jesus. Não é mais um plano de salvação imediata, mas uma escola de salvação progressiva”.

“É por isso que o Espiritismo não se proclama como religião única, fora da qual não haverá salvação. Essencialmente evolucionista, ele nos mostra a religião como um processo de desenvolvimento espiritual do homem. Nas fases primitivas, a religião se traduzia em mistério e magia. Nas fases posteriores da evolução humana, ela se traduz em compreensão espiritual. Os mistérios, as fórmulas sacramentais, a consagração de objetos, os ritos, são apenas instrumentos primários do desenvolvimento espiritual. Mas chega o momento em que o homem se liberta de tudo isso, para atingir aquilo que Jesus chamava: “adorar a Deus em espírito e verdade”.

Um comentário:

  1. Suas amigas estão equivocadas e não representam a maioria das pessoas. Nestas religiões encontramos pessoas muito estudadas a respeito do tema Deus e podem até nos surpreender com suas colocações.

    Um abraço
    Soraia

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