domingo, 12 de fevereiro de 2012

“O Espiritismo é uma Ciência Positiva"


Alocução de Allan Kardec aos Espíritas de Bruxelas e Antuérpia
Publicamos esta alocução a pedido de grande número de pessoas que nos
testemunharam o desejo de conservá-la, e porque ela tende a fazer considerar o Espiritismo sob
um aspecto de certo modo novo. A Revista Espírita de Antuérpia reproduziu-a integralmente.

Senhores e caros irmãos espíritas,

Apraz-me dar-vos este título, porque, embora eu não tenha o privilégio de conhecer todas
as pessoas presentes nesta reunião, quero crer que aqui estamos em família e todos em
comunhão de pensamentos e de sentimentos. Mesmo admitindo que nem todos os assistentes
fossem simpáticos às nossas idéias, não os confundiria menos no sentimento fraterno que deve
animar os verdadeiros espíritas para com todos os homens, sem distinção de opinião.
Não obstante, é aos nossos irmãos de crença que me dirijo mais especialmente, para
exprimir-lhes a satisfação que sinto de me achar entre eles e de oferecer-lhes, em nome da
Sociedade de Paris, a saudação de fraternidade espírita.
Eu já havia tido a prova de que o Espiritismo conta, nesta cidade, numerosos adeptos
sérios, devotados e esclarecidos, compreendendo perfeitamente o objetivo moral e filosófico da
Doutrina; sabia que aqui encontraria corações simpáticos, e isto foi motivo determinante para
que eu correspondesse ao insistente e grato convite que me foi feito por vários dentre vós, de
aqui fazer uma pequena visita este ano. A acolhida tão amável e cordial que recebi fará que leve
de minha estada a mais agradável lembrança.
Certamente eu teria o direito de envaidecer-me pela acolhida que me tem sido dispensada
nos diferentes centros que visito, se não soubesse que esses testemunhos se dirigem muito
menos ao homem do que à Doutrina, da qual sou humilde representante, e devem ser
consideradas como uma profissão de fé, uma adesão aos nossos princípios. É assim que os
encaro, no que me concerne pessoalmente.
Aliás, se as viagens que faço de vez em quando aos centros espíritas só devessem ter
como resultado a satisfação pessoal, eu as consideraria inúteis e delas me absteria. Mas, além de
contribuírem para estreitar os laços de fraternidade entre os adeptos, também têm a vantagem de
fornecer-me elementos de observação e de estudo, jamais perdidos para a Doutrina.
Independentemente dos fatos que possam servir ao progresso da Ciência, aí recolho os materiais
da história futura do Espiritismo, os documentos autênticos sobre o movimento da idéia espírita,
os elementos mais ou menos favoráveis ou contrários que ela encontra, conforme as localidades,
a força ou a fraqueza e as manobras de seus adversários, os meios de combater estes últimos, o
zelo e o devotamento de seus verdadeiros defensores.
Entre estes últimos, devem colocar-se em posição de destaque todos os que militam pela
causa com coragem, perseverança, abnegação e desinteresse, sem segunda intenção pessoal, que
buscam o triunfo da doutrina pela doutrina, e não pela satisfação de seu amor-próprio; enfim,
aqueles que, por seu exemplo, provam que a moral espírita não é uma palavra vã, e se esforçam
por justificar esta notável afirmação de um incrédulo: Com uma tal doutrina, não se pode ser
espírita sem ser homem de bem.
Não há centro espírita onde eu não tenha encontrado um número mais ou menos grande
desses pioneiros da obra, desses arroteadores de terreno, desses lutadores infatigáveis que,
sustentados por uma fé sincera e esclarecida, pela consciência de cumprir um dever, não
desanimam ante nenhuma dificuldade, encarando seu devotamento como dívida de
reconhecimento pelos benefícios morais que receberam do Espiritismo. É justo fiquem perdidos
para os nossos descendentes os nomes daqueles de que se honra a Doutrina e que um dia não
possam ser inscritos no panteão espírita?
Infelizmente, ao lado destes por vezes se acham pessoas de má índole, os impacientes da
causa, que, não calculando o alcance de suas palavras e de seus atos, podem comprometê-la; os
que, por zelo irrefletido, por idéias intempestivas e prematuras, sem o querer fornecem armas
aos nossos adversários. Depois vêm aqueles que, não considerando o Espiritismo senão pela
superfície, sem serem tocados no coração, por seu próprio exemplo dão uma falsa idéia de seus
resultados e de suas tendências morais.
Eis aí, sem sombra de dúvida, o maior escolho com que se deparam os sinceros
propagadores da Doutrina, pois muitas vezes vêem a obra, que tão penosamente esboçaram,
desfeita justamente por aqueles que os deveriam secundar. Está provado que o Espiritismo é
mais entravado pelos que o compreendem mal do que pelos que não o compreendem
absolutamente, e, mesmo, pelos inimigos declarados. E é de notar que os que o compreendem
mal geralmente têm a pretensão de o compreender melhor que os outros; e não é raro ver
neófitos que, ao cabo de alguns meses, pretendem dar lições àqueles que adquiriram experiência
em estudos sérios. Tal pretensão, que denuncia o orgulho, é uma prova evidente da ignorância
dos verdadeiros princípios da Doutrina.
Contudo, que os espíritas sinceros não desanimem: é o resultado do momento de transição
por que vivemos. As idéias novas não podem estabelecer-se de repente e sem obstáculos; como
lhes é preciso varrer as idéias antigas, forçosamente encontram adversários que as combatem e
as repelem, sem falar nas criaturas que as tomam em sentido contrário, que as exageram ou
desejam acomodá-las a seus gostos e opiniões pessoais. Mas chega o momento em que as idéias
contraditórias caem por si mesmas, uma vez conhecidos e compreendidos os verdadeiros
princípios pela maioria. Já vedes o que sucedeu com todos os sistemas isolados, surgidos na
origem do Espiritismo; todos caíram ante a observação mais rigorosa dos fatos, ou só ainda
encontram alguns desses partidários tenazes que, em tudo, se aferram às suas idéias primitivas,
sem darem um passo à frente. A unidade se fez na crença espírita com muito mais rapidez do
que se esperava. É que os Espíritos, em todos os pontos, vieram confirmar os princípios
verdadeiros, de sorte que hoje, entre os adeptos do mundo inteiro, há uma opinião predominante
que, se ainda não goza da unanimidade absoluta, é, incontestavelmente, a da imensa maioria.
Donde se segue que aquele que quiser marchar na contramão desta opinião, encontrando pouco
ou nenhum eco, condena-se ao isolamento. Aí está a experiência para o demonstrar.
Para remediar o inconveniente que acabo de assinalar, isto é, para prevenir as
conseqüências da ignorância e das falsas interpretações, é preciso maior empenho na
vulgarização das idéias justas e na formação de adeptos esclarecidos, cujo número crescente
neutralizará a influência das idéias errôneas.
Minhas visitas aos centros espíritas, naturalmente, têm por objetivo principal auxiliar os
nossos irmãos em crença em suas tarefas. Assim, eu as aproveito para lhes dar instruções que
possam necessitar, como desenvolvimento teórico ou aplicação prática da Doutrina, tanto quanto
me é possível fazê-lo. Como é sério o fim dessas visitas, e exclusivamente no interesse da
Doutrina, não busco ovações, que nem são do meu gosto, nem do meu caráter. Minha maior
satisfação é encontrar-me com amigos sinceros, devotados, com os quais nos podemos entreter
sem constrangimento e esclarecer-nos mutuamente, por uma discussão amistosa, em que cada
um traz o contributo de suas próprias observações.
Nessas excursões não vou pregar aos incrédulos; jamais convoco o público para
catequizá-lo, pois não vou fazer propaganda; só compareço a reuniões de adeptos nas quais
meus conselhos são desejados e possam ser úteis; eu os dou de bom grado aos que julgam deles
necessitar; abstenho-me com os que se julgam bastante esclarecidos para os dispensar. Numa
palavra, só me dirijo aos homens de boa vontade.
Se, excepcionalmente, se insinuassem nessas reuniões pessoas atraídas somente pela
curiosidade, ficariam desapontadas, porquanto aí nada encontrariam que as pudesse satisfazer; e,
caso estivessem animadas de sentimento hostil ou desabonador, o caráter eminentemente grave,
sincero e moral da assembléia e dos assuntos nela tratados tiraria qualquer pretexto plausível
para a sua malevolência. Tais são os pensamentos que exprimo nas diversas reuniões às quais
sou chamado para assistir, a fim de que não se equivoquem quanto às minhas intenções.
Afirmei no início que eu não era senão o representante da Doutrina. Algumas explicações
sobre o seu verdadeiro caráter naturalmente chamarão vossa atenção para um ponto essencial
que, até agora, não foi considerado suficientemente. Na verdade, vendo a rapidez dos progressos
desta Doutrina, haveria mais glória em dizer-me seu criador; meu amor-próprio aí encontraria o
seu salário; mas não devo fazer minha parte maior do que ela é; longe de o lamentar, eu me
felicito, porque, então, a Doutrina não passaria de uma concepção individual, que poderia ser
mais ou menos justa, mais ou menos engenhosa, mas que, por isso mesmo, perderia sua
autoridade. Poderia ter partidários, talvez fizesse escola, como muitas outras, mas certamente
não teria adquirido, em alguns anos, o caráter de universalidade que a distingue.
Eis um fato capital, senhores, que deve ser proclamado bem alto. Não, o Espiritismo não é
uma concepção individual, um produto da imaginação; não é uma teoria, um sistema inventado
para a necessidade de uma causa; tem sua fonte nos fatos da própria Natureza, em fatos
positivos, que se produzem a cada instante sob os nossos olhos, mas cuja origem não se
suspeitava. É, pois, resultado da observação; numa palavra, uma ciência: a ciência das relações
entre o mundo visível e o mundo invisível; ciência ainda imperfeita, mas que se completa todos
os dias por novos estudos e que, tende certeza, ocupará o seu lugar ao lado das ciências positivas.
Digo positivas, porque toda ciência que repousa sobre fatos é uma ciência positiva, e não
puramente especulativa.
O Espiritismo nada inventou, porque não se inventa o que está na Natureza. Newton não
inventou a lei da gravitação; esta lei universal existia antes dele. Cada um a aplicava e lhe sentia
os efeitos, embora não a conhecessem.
O Espiritismo, por sua vez, vem mostrar uma nova lei, uma nova força da Natureza: a que
reside na ação do Espírito sobre a matéria, lei tão universal quanto a da gravitação e da
eletricidade, conquanto ainda desconhecida e negada por certas pessoas, como o foram todas as
outras leis na época de suas descobertas. E que os homens geralmente têm dificuldade em
renunciar às suas idéias preconcebidas e, por amor-próprio, custa-lhes reconhecer que estavam
enganados, ou que outros tenham podido encontrar o que eles mesmos não encontraram.
Mas, em última análise, como esta lei repousa sobre fatos, e contra os fatos não há
negação que possa prevalecer, terão de render-se à evidência, como os mais recalcitrantes o
fizeram quanto ao movimento da Terra, à formação do globo e aos efeitos do vapor. Por mais
que acusem os fenômenos de ridículos, não podem impedir a existência daquilo que é.
Assim, o Espiritismo procurou a explicação dos fenômenos de uma certa ordem e que, em
todos os tempos, se produziram de maneira espontânea. Mas, sobretudo, o que o favoreceu
nessas pesquisas é que lhe foi dado, até certo ponto, o poder de produzi-los e de provocá-los.
Encontrou nos médiuns instrumentos adequados a tal efeito, como o físico encontrou na pilha e
na máquina elétrica os meios de reproduzir os efeitos do raio. E fácil compreender que isto não
passa de uma comparação; não pretendo estabelecer uma analogia.
Mas há aqui uma consideração de alta importância: é que, em suas pesquisas, ele não
procedeu por via de hipóteses, como o acusam; não supôs a existência do mundo espiritual para
explicar os fenômenos que tinha sob as vistas; procedeu por meio da análise e da observação;
dos fatos remontou à causa e o elemento espiritual se lhe apresentou como força ativa; só o
proclamou depois de havê-lo constatado.
Como força e como lei da Natureza, a ação do elemento espiritual abre, assim, novos
horizontes à Ciência, dando-lhe a chave de uma imensidão de problemas incompreendidos. Mas,
se a descoberta de leis puramente materiais produziu revoluções materiais no mundo, a do
elemento espiritual nele prepara uma revolução moral, pois muda totalmente o curso das idéias e
das crenças mais arraigadas; mostra a vida sob outro aspecto; mata a superstição e o fanatismo;
desenvolve o pensamento, e o homem, em vez de arrastar-se na matéria, de circunscrever sua
vida entre o nascimento e a morte, eleva-se ao infinito; sabe donde vem e para onde vai; vê um
objetivo para o seu trabalho, para os seus esforços, uma razão de ser para o bem; sabe que nada
do que adquire na Terra, em saber e moralidade, lhe é perdido, e que seu progresso continua
indefinidamente no além-túmulo; sabe que há sempre um futuro para si, sejam quais forem a
insuficiência e a brevidade da existência presente, ao passo que a idéia materialista,
circunscrevendo a vida à existência atual, dá-lhe como perspectiva o nada, que não tem por
compensação sequer a duração, que ninguém pode aumentar à vontade, já que podemos cair
amanhã, em uma hora, e então o fruto dos nossos labores, de nossas vigílias, dos conhecimentos
adquiridos estarão para nós perdidos para sempre, muitas vezes sem termos tido tempo de
desfrutá-los.
O Espiritismo, repito, ao demonstrar, não por hipótese, mas por fatos, a existência do
mundo invisível e o futuro que nos aguarda, muda completamente o curso das idéias; dá ao
homem a força moral, a coragem e a resignação, porque não mais trabalha apenas pelo presente,
mas pelo futuro; sabe que se não gozar hoje, gozará amanhã. Demonstrando a ação do elemento
espiritual sobre o mundo material, amplia o domínio da Ciência e, por isto mesmo, abre nova via
ao progresso material. Então terá o homem uma base sólida para o estabelecimento da ordem
moral na Terra; compreenderá melhor a solidariedade que existe entre os seres deste mundo, já
que esta solidariedade se perpetua indefinidamente; a fraternidade deixa de ser palavra vã; ela
mata o egoísmo, em vez de por ele ser morta e, muito naturalmente, o homem imbuído destas
idéias a elas conformará suas leis e suas instituições sociais.
O Espiritismo conduz inevitavelmente a esta reforma. Assim, pela força das coisas,
realizar-se-á a revolução moral que deve transformar a Humanidade e mudar a face do mundo, e
isto tão-só pelo conhecimento de uma nova lei da Natureza, que dá outro curso às idéias, uma
finalidade a esta vida, um objetivo às aspirações do futuro, fazendo encarar as coisas de outro
ponto de vista.
Se os detratores do Espiritismo - falo dos que militam pelo progresso social, dos escritores
que pregam a emancipação dos povos, a liberdade, a fraternidade e a reforma dos abusos -
conhecessem as verdadeiras tendências do Espiritismo, seu alcance e seus inevitáveis resultados,
em vez de ridicularizá-lo, como fazem, de interpor incessantemente obstáculos no seu caminho,
nele vissem a mais poderosa alavanca para chegar à destruição dos abusos que combatem, em
vez de lhe serem hostis, o aclamariam como um socorro providencial. Infelizmente, na sua
maioria, crêem mais em si do que na Providência. Mas a alavanca age sem eles e a despeito
deles, e a força irresistível do Espiritismo será tanto mais bem constatada quanto mais ele tiver
de combater. Um dia dirão deles, o que não será para a sua glória, o que eles próprios dizem dos
que combateram o movimento da Terra e dos que negaram a força do vapor. Todas as negações,
todas as perseguições não impediram que estas leis naturais seguissem seu curso, assim como os
sarcasmos da incredulidade não impedirão a ação do elemento espiritual, que é, também, uma lei
da Natureza.
Considerado desta maneira, o Espiritismo perde o caráter de misticismo que lhe censuram
os detratores, justamente aqueles que menos o conhecem. Não é mais a ciência do maravilhoso e
do sobrenatural ressuscitada: é o domínio da natureza enriquecida por uma lei nova e fecunda,
uma prova a mais do poder e da sabedoria do Criador; são, enfim, os limites recuados dos
conhecimentos humanos.
Tal é, em resumo, senhores, o ponto de vista sob o qual se deve encarar o Espiritismo.
Nesta circunstância, qual foi o meu papel? Nem o de inventor, nem o de criador. Vi, observei,
estudei os fatos com cuidado e perseverança; coordenei-os e lhes deduzi as conseqüências: eis
toda a parte que me cabe. Aquilo que fiz, outro poderia ter feito em meu lugar. Em tudo isto fui
simples instrumento dos pontos de vista da Providência, e dou graças a Deus e aos bons
Espíritos por se terem dignado servir-se de mim. É uma tarefa que aceitei com alegria, e da qual
me esforcei por tornar-me digno, pedindo a Deus me desse as forças necessárias para realizá-la
segundo a sua santa vontade. No entanto, a tarefa é pesada, mais pesada do que possam imaginála;
e se tem para mim algum mérito, é que tenho a consciência de não haver recuado perante
nenhum obstáculo e nenhum sacrifício. Será a obra da minha vida até meu último dia, porque, na
presença de um objetivo tão importante, todos os interesses materiais e pessoais se apagam
como pontos diante do infinito.
Termino esta alocução, senhores, dirigindo sinceras felicitações aos nossos irmãos da
Bélgica, presentes ou ausentes, cujo zelo, devotamento e perseverança contribuíram para a
implantação do Espiritismo neste país. Estou convicto de que as sementes plantadas nos grandes
centros de população, como Bruxelas, Antuérpia, etc, não foram lançadas em solo estéril.

(REVISTA ESPÍRITA, NOVEMBRO DE 1864, ED. FEB, P. 429-438.)
Viagem Espírita

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Missão dos Espiritas


Entramos em mais um ano e avançamos como civilização para um progresso material sem precedentes na historia da humanidade. Porém ainda sofremos com altos índices de depressão, muitas pessoas recorrem ao suicídio para resolver seus problemas (pensando que não vão mais existir, fruto de um pensamento sem esperança no futuro.), corrupção, não só Política, mas também no nosso dia a dia com o nosso ”jeitinho”. Barbáries que vemos todos os dias nos noticiários e uma corrida frenética por bem estar e altos ganhos pensando que só isso resolve todos os problemas e nos dão a paz que precisamos. Lógico que é da natureza humana querer ser e estar melhor, porque se assim não fosse estaríamos vivendo em cavernas. Todos estes fatos que coloquei acima ( se colocasse todos aqui encheria este artigo) vem nos mostrar um descompasso que temos com a vida, e é por falta de entender  este descompasso que ainda, por maior que seja o progresso material, sofremos. Mas qual a saída para o sofrimento? Está na religião? Hoje sabemos, pelas pesquisas, que os evangélicos são os que mais crescem em numero de seguidores da religião protestante no Brasil. E no exterior é a religião mulçumana. Acho isso interessante, porque de uma forma ou de outra está se dando um sentindo nas vidas, que vem muitas vezes pelo sofrimento, dessas pessoas, minorando um pouco seus sofrimentos. Porem ainda assim não explica por completo o que ocorre com o ser humano, ainda lhe falta uma chave. A saída está na ciência? Hoje a ciência colabora em muito com o progresso da humanidade e o  futuro que se forma no horizonte é ainda melhor, porque se avança a cada dia. A tecnologia hoje é um grande aliado em todos os setores da sociedade, da dona de casa até o grande empresário, na medicina, na Imprensa, na vida em sociedade com as redes sociais etc., mas isso tudo ainda é muito comercial, porque a ciência e tecnologia ainda estão presos ao lucro, senão deu lucro não vale apena investir. Acontece muito em países que certas doenças não têm uma “demanda” tão grande e não se investe para combatê-la, deixando muitos seres humanos à mercê. Por mais que avancemos, ainda não sabemos a causa de muitas coisas que acontece conosco, como por exemplo, a causa do câncer. Ainda assim falta uma chave que abra as portas do entendimento. Mas que chave seria esta?

A chave para todos estes “mistérios” que acontecem conosco está no conhecimento e estudo da lei de Reencarnação. Em pronunciar esta palavra muitas pessoas e instituições torcem o nariz ou já de cara nega seu conhecimento, sem verificar se esta certa ou errada. Mas como disse acima a reencarnação é uma Lei universal, assim como é a Lei da gravitação universal descoberta por Issac Newton. Este conhecimento é inato no ser humano desde o inicio dos tempos, a maioria das tradições antigas tinha no retorno á vida uma crença. Porém só no século XIX que Allan Kardec juntamente com os espíritos descobrem esta Lei que governa os mundos passiveis de abrigar seres em evolução. Porque pelo estudo e conhecimento desta lei vamos desdobrar outros conhecimentos e leis como a evolução,por exemplo.
Este artigo não é sobre a reencarnação, mas como sua divulgação e conhecimento pelo ser humano podem abrir caminho para o entendimento das mazelas humanas e responder várias questões para os problemas. “Reconheçamos, portanto, em resumo, que a doutrina da pluralidade das existências explica o que sem ela, é inexplicável; que eminentemente consoladora e conforme a mais rigorosa justiça; que representa para o homem a âncora de salvação que Deus, na sua misericórdia, lhe concedeu” este trecho é uma pequena parte do estudo da reencarnação do item 222 de O Livro dos Espíritos, item que é obrigatório para estudo de toda pessoa que se diz espírita.
O conhecimento desta lei pela humanidade é fator de progresso, pois dá sentido a tudo que antes era uma incógnita. O Espiritismo como um todo e seu conhecimento, onde esta contida a descoberta da lei de reencarnação, também é fator de progresso. Lemos na pergunta 798:
798. O Espiritismo se tornará crença comum, ou ficará sendo
partilhado, como crença, apenas por algumas pessoas?
Certamente que se tornará crença geral e marcará nova
era na história da humanidade, porque está na natureza e
chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos
humanos. Terá, no entanto, que sustentar grandes lutas,
mais contra o interesse, do que contra a convicção,
porquanto não há como dissimular a existência de pessoas
interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio, outras
por causas inteiramente materiais. Porém, como virão a
ficar insulados, seus contraditores se sentirão forçados
a pensar como os demais, sob pena de se tornarem ridículos.”
799. De que maneira pode o Espiritismo contribuir para o
progresso?
“Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da
sociedade, ele faz que os homens compreendam onde se
encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida
futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor
que, por meio do presente, lhe é dado preparar o seu
futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina
aos homens a grande solidariedade que os há de unir
como irmãos.”

Como vimos acima o conhecimento das idéias espíritas vai figurar entre os conhecimentos humanos e na segunda pergunta em vermelho ele fala implicitamente da reencarnação como ponto de esperança e norteando nossas ações para o futuro, pelo entendimento da imortalidade da alma.
Nossa responsabilidade nisto tudo onde está? Na divulgação destas idéias. Quando Kardec pergunta acima em ser o espiritismo uma crença comum, não diz ele no sentido de religião, coisa que o espiritismo não é, mas em um conhecimento que vai nortear as ações dos seres humanos independente de crença religiosa, sendo assim uma religião natural, como dizia Rousseau.
Temos que sair da rotina dos centros espíritas e dialogar com a sociedade em todas as áreas, na política, na imprensa, no pensamento acadêmico, nas instituições, com a ciência, na pedagogia e a religião. Mas que possamos dialogar com os vários setores de uma forma fundamentada, e isto só vamos encontrar através da codificação e nos eminentes pensadores espíritas.
o titulo deste artigo é referente ao capitulo XX, Trabalhadores da ultima hora, item 4, mensagem dada pelo espírito Erasto em Paris, 1863. Onde se lê:
“Não escutais já o ruído da tempestade que há de arrebatar
o velho mundo e abismar no nada o conjunto das iniqüidades
terrenas? Ah! bendizei o Senhor, vós que haveis
posto a vossa fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos
da crença revelada pelas proféticas vozes superiores,
ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação
dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal,
suas missões e suportado suas provas terrestres.”
Como esta comunicação é longa colocamos um trecho, mas o leitor pode ir direto na fonte e ler e reler o objetivo central de nós espíritas.
Que possamos colocar a educação como ponto central, pois através do entendimento é que vamos conseguir nos transformarmos e conseqüentemente a toda a sociedade, não com proselitismo,porque a doutrina não é assim, mas quando nos for perguntado sobre as questões doutrinárias, que possamos estar prontos para explicar de forma segura e com argumentos para o melhor entendimento da questão. Que não possamos ficar somente enclausurados nos centros em reuniões mediúnicas ou promovendo o assistencialismo como forma de caridade, uma porque a caridade é mais do que isso, ou nos entupindo de trabalhos na casa espírita sem ter tempo para a reflexão que é tão necessária para o amadurecimento da doutrina em nós. O centro espírita deve ser um pólo de irradiação para a comunidade de idéias e conhecimento, não só resolução de problemas pessoais, educando para a construção do homem de bem. Estes são desafios, acho, para este século XXI.                     

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Pensamento e Matéria

Um dia desses recebi um e-mail onde falava que em certo centro Espírita do Rio de Janeiro, foi recebida uma mensagem do espírito Bezerra de Meneses conclamando as pessoas a orarem pelas vítimas dos desabamentos ocorridos naquela cidade, fazendo uma corrente de ajuda. Até aí tudo bem, pois qualquer ajuda que possamos fazer pelos nossos irmãos em sofrimento é muito importante. O que me chamou a atenção foram os comentários da pessoa que enviou o e-mail. Em dado momento ele diz que essa corrente ajudaria porque “o pensamento é matéria”. Fiquei alguns minutos pensando da onde esta pessoa tirou tal afirmação. Mas não fiquei assustado com isto, porque há alguns anos atrás eu também pensava que o pensamento era matéria. Felizmente alertado por amigos estudiosos da doutrina e indo buscar conhecimento na fonte cristalina da codificação e percebendo a lógica das idéias, cheguei a várias conclusões, não só com respeito ao pensamento, mas a outros temas.
Mas onde nasce estas idéias que, como eu tinha, vários espíritas tem hoje, que infelizmente  não condiz com o  pensamento espírita de fato? Fazendo algumas investigações aqui outra ali, refletindo e conversando com amigos ancorados nos estudos, apresento algumas conclusões, que não são só minhas mas de milhares de espíritas no Brasil.
Primeiro vamos aos textos:

No livro Mecanismos da mediunidade, pelo Espírito Andre Luiz através do médium Chico Xavier , editado pela FEB(quarta edição), temos o capítulo IV, intitulado ‘’Matéria Mental” onde se lê:
“Identificando o fluido elementar ou hálito divino por base mantenedora de todas as associações da forma nos domínios inumeráveis do cosmo, do qual conhecemos o elétron como sendo um dos corpúsculos-base nas organizações e oscilações da matéria, interpretaremos o universo como um todo de forças dinâmicas, expressando o pensamento do criador. E superpondo-se-lhe à grandeza indevassável, encontraremos a matéria mental que nos é própria, em agitação constante, plasmando as criações temporárias, adstritas à nossa necessidade de progresso”.
Na pagina 44 que tem como subtítulo “Pensamento das criaturas” ainda se lê:
“Do principio elementar, fluindo incessantemente no campo cósmico, auscultamos, de modo imperfeito, as energias profundas que produzem eletricidade e magnetismo, sem conseguir enquadrá-las em exatas definições terrestres, e, da matéria mental dos seres criados, estudamos o pensamento ou fluxo energético do campo espiritual de cada um deles, a se graduarem nos mais diversos tipos de onda(...)”
Na pagina seguinte em “Corpúsculos mentais” lemos ainda:
“Como alicerce vivo de todas as realizações nos planos físico e extrafísico, encontramos o pensamento por agente essencial. Entretanto, ele ainda é matéria.(...)” e por aí vai por todo o capitulo.
No Livro Universo e Vida de Hernani T. Santana pelo Espírito Áureo 3ªedição editado pela FEB, Temos no cap.5 o Título “Energia e evolução”, no número 19 com subtítulo de “Ação mento magnética” temos:
”O Pensamento é uma radiação da mente espiritual, dotada de ponderabilidade e de propriedades quimioeletromagnéticas, constituída de partículas subdivisíveis, ou corpúsculos de natureza fluídica, configurando como matéria mental viva e plástica. (...)”
Estes textos são apenas alguns exemplos da idéia do pensamento ser Matéria. Coloquei-os por perceber que estas obras influenciam nosso movimento espírita há vários anos. Farei alguns comentários destes textos, mas antes vamos à lógica da codificação.
Primeiramente vamos ver a definição de matéria na codificação. Pergunta 22-a de O Livro dos Espíritos:
22-a. Que definição podeis dar da matéria?
“A matéria é o laço que prende o espírito: é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.” Deste ponto de vista, pode dizer-se que a matéria é o agente, o intermediário com o auxilio do qual e sobre o qual atua o espírito. (comentário de Kardec)
Podemos observar só por está questão que espírito e matéria são coisas distintas. Nas perguntas seguintes é reafirmada tal distinção e concluído que existem três elementos no universo, Deus, espírito e matéria. Na pergunta 89-a temos:
89-a. O pensamento não é a própria alma que se transporta?
“Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois é a alma quem pensa. O pensamento é um atributo.”
Se o pensamento é um atributo, então ele não é material.
 Poderia redigir várias perguntas aqui, da codificação, atestando pela lógica, mas ficaria muito longo e enfadonho, porque o objetivo aqui é ser objetivo.
Falam alguns livros e médiuns que o pensamento tem cor, cheiro e forma. Então o pensamento não seria material? Podem perguntar alguns. Não, não é! Respondo de forma direta, pois tenho segurança nos escritos de O Livro dos Espíritos, como podemos ver acima e em outras questões. O que ocorre com fenômeno de cor, cheiro e forma é que o espírito usa a matéria como instrumento de sua ação, ou seja, utiliza-se da matéria cósmica universal para fazer estes efeitos, consciente ou inconscientemente, como se revestissem o pensamento.
Os espíritos André Luiz e Áureo estão errados? Não cabe a eu dizer. Só penso que obras que se dizem espíritas estão dizendo coisas diferentes da codificação, por serem consideradas obras complementares, não completam, criam outros sistemas e confusão, sendo assim não são condizentes com o pensamento espírita.
Vimos acima em Áureo, este trecho, “O Pensamento é uma radiação da mente espiritual, dotada de ponderabilidade (...)”. Ponderabilidade é o que tem forma, peso específico. Vejamos a questão 29:
29- A ponderabilidade é um atributo essencial da matéria?
“Da maneira como a entendeis, sim: mas não da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que forma esse fluido é imponderável para vós, mas nem por isso deixa de ser o principio da vossa matéria pesada”. Podem observar a incongruência?

O problema é que acham que a codificação é do século 19, e que precisamos de obras atualizadas ou novidade vinda pela via mediúnica para “completar” as cinco obras. A falta de estudo aprofundada e contínua da obra Kardequiana, que não tem na maioria dos centros, e por falta de tempo não temos para fazê-lo em casa, é outro escolho. A fé raciocinada que prega nossa doutrina nós não a praticamos, dando lugar a credulidade cega na palavra de espíritos e médiuns. Kardec nos ensina que em todos os momentos devemos usar nossa razão e a observação.
Não! A terceira revelação não é do século 19, ela nasceu lá, mas não é daquele século, ela é atemporal. A doutrina espírita (digo as cinco obras) é a grande novidade para a humanidade, que foi bem construída com bases sólidas e metodologia segura, baseada na razão e no controle universal do ensino dos espíritos, (que está na introdução de O evangelho Segundo O Espiritismo). Vamos a um trecho da referida introdução:
“O Espiritismo ainda encontra nela (na universalidade do ensino dos espíritos) uma poderosa garantia contra os cismas que poderiam ser suscitados, quer pela ambição de alguns, quer pelas contradições de certos espíritos. Essas contradições são certamente um escolho, mas carregam em si mesmas o remédio ao lado do mal.(...)”
“(...) as revelações que alguém possa obter são de caráter individual, sem autenticidade, e devem ser consideradas como opiniões pessoais deste ou daquele espírito, sendo imprudência aceita-las e propagá-las levianamente como verdades absolutas.” Viram que são palavras de Kardec e não minhas.
Minha intenção não é criar confusão, mas colocar as coisas para podermos juntos pensar e discutir, exercitando nossa fé raciocinada e chegando mais perto de compreender as verdades trazidas pela falange do Espírito de Verdade. Muitos podem dizer, “essas discussões não interessam, o que interessa é a reforma moral”. Concordo plenamente que nossa reforma moral é importantíssima para destruir nosso orgulho, vaidade, egoísmo e nossa falta de amor, mas não podemos por isso não exercitar nossa razão e capacidade de reflexão, porque a doutrina está apoiada em um tripé harmônico (Filosofia, Ciência e Moral ou Religião), se dermos atenção em um só aspecto haverá o desequilíbrio, e havendo tal desequilíbrio, há confusão dos aspectos doutrinário, havendo confusão os espíritos que querem a desmoralização da doutrina se infiltram para criar sistemas próprios não condizentes com o pensamento espírita, daí faremos do espiritismo uma colcha de retalhos levando-a ao descrédito.
Estou aberto a respostas e críticas. Grande abraço a todos

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Livro dos Médiuns 150anos

“Anunciada há muito tempo, mas com a publicação
Retarda da em virtude de sua própria importância, esta obra
aparecerá entre os dias 5 e 10 de janeiro, na livraria do Sr. Didier,
nosso editor, localizada no Quai des Augustins, 35. Representa o
complemento de O Livro dos Espíritos e encerra a parte
experimental do Espiritismo, assim como este último contém a
parte filosófica.(...)”
Este trecho acima é parte de um texto de Kardec publicado na Revista Espírita de 1861 do mês de janeiro, onde ele anuncia o aparecimento de O Livro dos Médiuns. Este ano se comemora os 150 anos deste livro importante e atualíssimo para nós espíritas, mas infelizmente é pouco estudado e refletido em nosso meio.
 O livro dos Médiuns não nasceu da imaginação de Kardec ou ditada pelos espíritos e colocada no livro (como se faz com as obras mediúnicas hoje) e mandado publicar. É um tratado que tem por fundamento a pesquisa cientifica e a experiência, além da contribuição teórica dos espíritos na explicação de vários problemas ainda inacessíveis à pesquisa científica. Essas explicações só eram aceitas por Kardec na medida de sua racionalidade, de acordo com o método de controle rigoroso que estabeleceu para o seu trabalho. Mas qual a importância deste livro para a humanidade?
 Os fatos espíritas (fenômenos) e as comunicações com o “outro mundo” sempre foram, desde a antiguidade, presentes na humanidade. Os seres tribais com seus animismos, sacerdotes no Egito antigo, os profetas Bíblicos, os oráculos em Atenas, as bruxas da idade média, etc. sempre contaram com a prática da mediunidade e/ou mediunismo e os fenômenos decorrentes disto.
A Mediunidade sempre fez parte da existência humana em todos os tempos, mas nunca nenhum homem ou organização fez o que Kardec, junto com os Espíritos, fez que foi observar, estudar, catalogar, interrogar, tudo sobre um método científico e nos trazer um livro fundamental. Ele nos ensina, como ótimo pedagogo que era até como nos portarmos e dialogarmos frente com pessoas que nunca ouviram falar de mediunidade, como na primeira parte em Noções preliminares.
“A prática Espírita é difícil, apresentando escolhos que somente um estudo sério e completo pode prevenir”. Esta fala de Kardec na Introdução do livro é uma preocupação que ele já nos adverte desde o inicio, por isso o Livro dos Médiuns é bem estruturado e com um encadeamento lógico, onde ele toca em todos os pontos.
O codificador observou e aprendeu com todos os espíritos da Escala Espírita, desde os inferiores até os superiores. Porque para entender a dinâmica mediúnica teria que observar todas as classes, por isso o capítulo XXIV-Identidade dos Espíritos, ou o capitulo XXVII-Contradições e mistificações, foram criados. E nós não levamos em consideração estes capítulos e tudo que vem das obras mediúnicas nós acreditamos, porque somos muito místicos e crédulos ainda. Por isso ele já nos alerta na introdução como pode ser relido acima. Para dar minha pequena contribuição em homenagem a este livro farei dois ou três artigos de alguns capítulos para que possamos refletir sobre a importância de O Livro dos Médiuns no nosso momento atual. E a resposta da pergunta feita no início deste texto vai sendo respondido.
Grande abraço

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Desenvolvimento Espiritual

Estava eu almoçando com duas grandes amigas em um shopping da cidade, quando, não sei como, entramos no tema “DEUS”. Fiquei surpreso que as duas( uma católica a outra evangélica) acreditam que Jesus é DEUS! Tentei argumentar falando que no evangelho há varias passagens que mostram o contrário, mas presas pelo dogma e pela falta de um pouco de raciocínio não aceitaram bem os meus argumentos. Então pensando na Doutrina Espírita como a terceira revelação resolvi trazer esse texto de J.Herculano Pires de seu livro “Os três caminhos de Hecate” com o titulo de "Desenvolvimento Espiritual" que  nos dá um reflexão sobre este encontro que tive com minhas amigas.

”Não podemos entender o problema religioso, fora da perspectiva histórica. Falar em verdades eternas, instituições divinas, revelações supremas, às quais teríamos de submeter-nos, como um rebanho ao pastor, é simplesmente fugir ao esclarecimento do assunto. A mística das revelações constitui um período histórico necessário, nas fases primárias do desenvolvimento humano. Como decorrer do tempo, esse período foi superado. O homem tornou-se capaz de pensar de maneira aguda e produtiva, de criticar suas concepções anteriores e de criar meios de investigação dos mistérios da vida e do mundo, com sua própria inteligência. Nesse momento, compreendeu a relatividade das antigas verdades absolutas”.

 “O Espiritismo se caracteriza, em face das religiões atuais, por essa posição racional, quanto ao problema religioso. As pessoas que não conhecem o Espiritismo, em geral o confundem com simples formas de sincretismo religioso ou de superstições primitivas. Pensam que Espiritismo é evocação de espíritos, magia, feitiçaria e coisas semelhantes. Assim, ao lerem o que acabamos de escrever, pensam que estamos sofismando. Aconselhamos essas pessoas a consultarem as obras básicas da doutrina, em especial “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, para verem que estamos com a razão”.

“As religiões antigas, anteriores ao Cristianismo, apresentavam-se como revelações divinas, feitas pelos deuses mitológicos. A religião judaica, da qual nasceu a cristã, era a revelação de Jeová ao povo eleito. O Cristianismo apareceu de maneira diferente, como uma religião didática, ensinada por um homem. A revelação divina se tornava humana. Mas a imaginação do tempo, apegada ao maravilhoso, em breve rejeitou essa modificação. Jesus foi devolvido do plano histórico ao mitológico e transformado em Deus. O Cristianismo absorveu, então, a mística e a magia das revelações divinas do passado, confundindo-se com elas. Tornou-se uma “religião revelada”, como as outras, e adquiriu o mesmo poder de coação, impondo-se aos homens pelo prestígio do mistério. Mas o próprio Cristo já havia previsto esse fato e anunciou a ressurreição de seus princípios, para quando a mente humana atingisse a maturidade. É o que vemos no Evangelho de João, com o anúncio do Consolador”.

“Quase dois mil anos correram sobre as palavras de Jesus, mas o momento de maturidade chegou. Nos séculos XVII e XVIII vemos acentuar-se o processo de maturação mental da humanidade, e no século XIX encontramos o homem numa fase de plena libertação espiritual. É então que aparece o Espiritismo. Não como revelação divina, no sentido das religiões antigas, mas como um vasto processo de descoberta do espírito. Kardec o apresenta, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, como III Revelação, mas esclarece o sentido novo dessa revelação”.

 “Nada mais claro do que a explicação de Kardec, em “A Gênese”, sobre a natureza do Espiritismo. Revelar, diz ele, é mostrar alguma coisa que estava oculta. Nesse sentido, o Espiritismo é, ao mesmo tempo, revelação divina e revelação humana. Divina, quando os Espíritos, por suas manifestações, revelam aos homens a natureza do mundo espiritual. Humana, quando os homens, por suas investigações, penetram os segredos desse mundo. A revelação espírita não é, portanto, absoluta, imposta aos homens pelos deuses ou por Deus. É o resultado de uma conjugação de esforços. Os Espíritos, homens desencarnados, e os Homens, espíritos encarnados, dão-se as mãos para descobrirem a verdade espiritual, no plano natural e não do mistério”.

Há duas formas de revelação, diz Kardec: a divina e a científica. As religiões antigas aceitavam a primeira e nela se baseavam.
Daí seu caráter absolutista, sua arrogância na imposição de princípios indiscutíveis. O Espiritismo aceita a segunda e nela se baseia. Daí seu caráter científico. Os Espíritos ajudam os homens a penetrarem os segredos do mundo espiritual. Não são mestres superiores e infalíveis, mas colaboradores. Não possuem a sabedoria suprema dos deuses, mas a relativa, das criaturas. A revelação divina se humaniza de novo no Espiritismo, despojando-se dos elementos místicos e mágicos do passado. Os princípios racionais, ensinados por Jesus, ressurgem no momento exato da maturidade mental da humanidade. A profecia do Mestre se cumpre, não de maneira milagrosa, mas dentro do processo histórico, como uma antevisão do desenvolvimento evolutivo da espécie”.

“As verdades eternas, as instituições divinas e as revelações supremas, que antes exerciam seu domínio mágico sobre os homens, perdem o velho prestígio. O homem, liberto do temor do mistério e do temor dos deuses, aprende a conquistar por si mesmo o conhecimento das coisas espirituais, como conquistou o das coisas materiais. Dentro da relatividade de sua natureza, aprende que as verdades eternas lhe são ainda inacessíveis. Aprende, sobretudo, que antes de conhecer o absoluto, terá de evoluir no relativo. A religião volta a adquirir, assim, o caráter didático do ensino de Jesus. Não é mais um plano de salvação imediata, mas uma escola de salvação progressiva”.

“É por isso que o Espiritismo não se proclama como religião única, fora da qual não haverá salvação. Essencialmente evolucionista, ele nos mostra a religião como um processo de desenvolvimento espiritual do homem. Nas fases primitivas, a religião se traduzia em mistério e magia. Nas fases posteriores da evolução humana, ela se traduz em compreensão espiritual. Os mistérios, as fórmulas sacramentais, a consagração de objetos, os ritos, são apenas instrumentos primários do desenvolvimento espiritual. Mas chega o momento em que o homem se liberta de tudo isso, para atingir aquilo que Jesus chamava: “adorar a Deus em espírito e verdade”.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Termos e expressões Espíritas

É comum, infelizmente, vermos em postes e paradas de ônibus, cartazes com os dizeres: “vidente espírita, joga-se búzios e cartas” ou “Mãe Joaquina, espírita, faz amarração para o amor” e por aí vai...! Outro aspecto é confundir Espiritismo com Umbanda, como se fosse tudo a mesma coisa Só porque se utiliza em ambos a comunicação com espíritos!( nada contra a Umbanda). Outra coisa é a denominação de “Espírita Kardecista”. Eu era uma dessas pessoas que se denominava assim! Até o IBGE (instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em seu ultimo senso (2010) na pesquisa de Religião não havia a palavra espírita, mas sim Kardecista. Se fosse respondido somente “Espírita” ficaria como “sem opção religiosa”. Por desconhecimento das pessoas em geral, de vários espíritas e por uma questão histórica, esta confusão acontece.
O leigo (vamos chamar assim!) por ter uma visão muito superficial da doutrina, mistura espiritismo com macumba e praticas exótica. Muitas pessoas vão a um centro espírita (o próprio nome “Centro” já faz remeter na mente destas pessoas a “Centro de Umbanda”), pensando em ver um altar com imagens, velas e defumadores ou um fundo falso aonde a qualquer momento vai se ver as imagens. Se bem que certos centros e espíritas adotam, por falta de estudo infelizmente, praticas exóticas, fortalecendo ainda mais essa “Aura” que circula a doutrina. Esta situação hoje melhorou um pouco mais, com o espaço que se tem na mídia, mas este espaço ainda não contribui para esclarecer as pessoas o que é Doutrina Espírita de fato! Mas esta é uma crítica que farei em outro momento. Da mesma forma a expressão “Espírita Kardecista” nos induz a pensar que existe outras formas de espiritismo, como por exemplo, “Espírita Umbandista”.
Espiritismo, Espírita ou Espiritista é uma nomenclatura Própria da Ciência Espírita, portanto só a ele é empregado. Definida muito bem por Kardec na introdução ao estudo da doutrina em “O Livro dos Espíritos”:
 “Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia*. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria. Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem os espiritistas” (...).
Ectoplasma, corpo astral, incorporação, carma etc.. são outros termos que são comuns dentro do movimento espírita, que tem significados diferentes dos usados pelo Espiritismo,e é usado como se fosse um termo espírita. Fluido vital, Perispírito, lei de causa e efeito, são termos e expressões proprias do Espiritismo.
Penso que não devemos misturar outros termos usados na Teosofia, no Ocultismo, no Budismo, na Metapsíquica e outras, como sendo Espíritas para não criar confusão. Todos nós temos liberdade de usar a palavra que quisermos, mas se nos denominamos Espíritas, temos que ter, pelo menos, um pouco de respeito pela doutrina trazida pelo Espírito da Verdade codificada por Allan Kardec. Estudando, meditando e colocando em prática o que nós aprendemos é que vamos usar os termos e expressões condizentes com a Ciência e Filosofia Espírita. Sugiro  começarmos este estudo pela “Introção ao estudo da Doutrina Espírita” em O Livro dos Espíritos. Vamos começar então? Bom leitura a todos!!

*Anfibologia (do grego amphibolia) vem a ser, na lógica e na lingüística moderna, o mesmo que ambigüidade (do latim ambiguitas, atis), isto é, a duplicidade de sentido em uma construção sintática. Um enunciado é ambíguo e, portanto, anfibológico quando permite mais de uma interpretação.(Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Obras Mediúnicas e Espiritismo (Introdução)

Hoje quando chegamos em uma livraria espírita(ou não) encontramos milhares de títulos nas prateleiras e dezenas de editoras querendo seu lugar ao sol nas casas dos leitores. Exatamente são mais de 4.000 mil títulos e mais de 100 milhões de exemplares vendidos. (Fonte. FEEC.). Temos verdadeiros Best-sellers, como: Divaldo Franco, Chico Xavier, Robson Pinheiro, Mônica de Castro, dentre outros. As editoras produzem livros hoje bem mais atraentes, com capa dura e Layout bem mais leve. Não perdendo em nada se comparado com as grandes editoras. Têm-se uma abertura maior as obras mediúnicas nestes últimos tempos do que a 10 ou 15 anos atrás.
 Praticamente tudo que vem pela  via mediúnica é publicado. Livros ditos “Espíritas” com conteúdos duvidosos e Fantásticos enchem as prateleiras das livrarias espíritas. Muitos de nós sem ter uma base segura em Allan Kardec acabamos por aceitar tudo que vem pela mediunidade como verdade, sem examinar nada. É sempre bom lembrar que a mediunidade não pertence ao Espiritismo, a doutrina só a estudou para que aqueles que tratem dela possam praticá-la com segurança e sem escolhos.Não quer dizer que porque é obra mediúnica seja espírita.Isto faz com que o Espiritismo fique sem credibilidade. Então qual o parâmetro que podemos usar para termos mais segurança? A resposta a está pergunta é, Allan Kardec. O mestre previu, através da experiência e pesquisa todos os inconvenientes, e sempre sob a orientação dos espíritos superiores.
Na revista espírita de 1863 do mês de maio temos um ótimo artigo com o título, ’’exame das comunicações mediúnicas que nos são enviadas”. Vejamos:
(...) “Aplicando esses princípios de ecletismo às comunicações que nos são enviadas, diremos que em 3.600 há mais de 3.000 que são de moralidade irreprochável, e excelentes como fundo; mas que desse número nem 300 merecem publicidade e apenas 100 têm mérito fora do comum. Como essas comunicações vieram de muitos pontos diferentes, inferimos que a proporção deve ser mais ou menos geral. Por aí pode julgar-se da necessidade de não publicar inconsideradamente tudo quanto vem dos Espíritos, se quisermos atingir o objetivo a que nos propomos, tanto do ponto de vista material quanto do efeito moral e da opinião que os indiferentes possam fazer do Espiritismo”.

Podemos observar o quanto Kardec era criterioso com as comunicações. Mas porque ele era assim? Ele sabia que a humanidade abrange não só os encarnados, mas também os desencarnados, e assim como aqui existem sábios, bons, maus, ignorantes, pseudo-sábios, literatos, espertos, gozadores, etc. do outro lado não seria diferente. Por isso o critério. Continuando:
(...) “eis por que, ao lado de alguns bons pensamentos, encontram-se, muitas vezes, idéias
excêntricas e traços inequívocos da mais profunda ignorância. É nessas modalidades de trabalhos mediúnicos que temos notado mais sinais de obsessão, dos quais um dos mais freqüentes é a injunção por parte do Espírito de os mandar imprimir; e alguns pensam erradamente que tal recomendação é suficiente para encontrar um editor atencioso que se encarregue da tarefa”.

Mas Kardec nem imaginava que hoje, em pleno século 21 os editores estão aceitando o “mandar imprimir” sem exame algum.

(...) “É principalmente em semelhante caso que um exame escrupuloso é necessário, se não nos quisermos expor a fazer discípulos à nossa custa. É, ainda, o melhor meio de afastar os
Espíritos presunçosos e pseudo-sábios, que se retiram inevitavelmente quando não encontram instrumentos dóceis a quem façam aceitar suas palavras como artigos de fé. A intromissão
desses Espíritos nas comunicações é, fato conhecido, o maior escolho do Espiritismo. Toda precaução é pouca para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa”(...)

Poderia enumerar vários livros e autores aqui, mas ficaria muito extenso e maçante para quem lê. O que foi escrito acima é só uma introdução para temas e livros que iremos discutir e estudar em artigos futuros, mas sempre confrontando um texto das obras da doutrina com certas informações.

Todos tem liberdade para ler ou não muitas obras que são editadas, podemos acreditar nas informações e nos espíritos que nos diz, mas daí colocar livros e informações como complementares(fazendo até palestras destas informações) sem critério algum é não dar crédito a metodologia empregada por Allan Kardec. Desfigurando assim a Doutrina Espírita e alimentando um lado nosso muito forte que é o místico, e ela(a doutrina) é o contra ponto disto. Uma vez li uma frase interessante, “O Espiritismo será no futuro o que fizermos dele” o que estamos fazendo dela então? Vamos pensar...